sábado, agosto 19, 2006

... de Pablo Neruda

Perdemos outra vez este crepúsculo.
Ninguém nos viu esta tarde de mãos dadas
Enquanto a noite azul caí­a sobre o mundo.

Vi da minha janela
a festa do poente nos morros distantes.

Às vezes como uma moeda
se acendia um pedaço de sol entre minhas mãos.

Eu te recordava com a alma encolhida
por essa tristeza que tu me conheces.

Então onde estavas?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
Porque é que o amor me vem assim de golpe
quando me sinto triste, e te sinto distante?

Caiu o livro que sempre se toma no crepúsculo,
e como um cão ferido tombou a meus pés minha capa.

Sempre, sempre te afastas pelas tardes
para onde o crepúsculo corre apagando estátuas.


Viente poemas de amor y una canción desesperada


7 comentários:

susemad disse...

Está tão bonito! Os meus os meus olhos meio apaixonados deixaram-se perder por esta sinfonia de palavras!! :)

Luis Duverge disse...

É ao final da tarde que o sol me guia
em direcção a um luar de Verão
uma estrada em que sou guiado pelo
som das cigarras que tentam esquecer
Invernos em que a alma era fustigada
por ventos e tempestade.
beijinhos

vida de vidro disse...

É bom encontrar Neruda, neste início de semana. Palavras maravilhosas em todos os cambiantes do amor. **

River disse...

De fugida só para te deixar uma beijoca... Xuuuac!

segurademim disse...

... quando a janela se abre e a dimensão do infinito entra por ela com luz, nuvens e pássaros, as palavras serão reconfortantes, mesmo em momentos tristes

:)

Bel disse...

è um excelente poeta, não há o que dizer.
Não sei se o amor cura todas as tristezas mas certamente curará algumas.
Beijo

BR disse...

"É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro."


Atrasada, apaixonada e de volta das Áfricas, mas ainda assim, sem poder deixar de comentar...