quinta-feira, dezembro 01, 2005

Fingir que está tudo bem




(...) fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.(...)
in "a criança em ruinas"
José Luis Peixoto

3 comentários:

Francis disse...

Passamos metade da nossa vida a fingir... Todos, sem excepção.
Tem um excelente fim-de-semana! :-)

River disse...

Sabes, tb gosto mt dele! mt mesmo :o)

E tenho o prazer de o conhecer pessoalmente!

mt beijinhos. bom fds

Elsa disse...

excelente comment no murcon
:D