domingo, dezembro 03, 2006



Fotografias · Instituto Geográfico Português

Ponto prévio: Estas (ilustradas nas fotografias), são Ordens Nacionais.
A autora do Post rejeita qualquer semelhança com as pseudo-ordens alegadamente invocadas pelo autor do texto que passa a citar.
Mas lá que o texto é imperdível, lá isso é.


(...)

"Eu não sei se alguém teve, alguma vez, a consciência de entrar numa coisa destas profano e sair iniciado, sábio ou mestre. Não. Estou em crer que nunca ninguém supôs sequer um tal cenário. Nos dias de hoje o que é um Mestre? Um mestre na sua grandiosidade espiritual? Quem é mestre e de quem é mestre? E se o mestre tem consciência de que é um intocável mestre, então não é simplesmente um mestre, é Deus. E quem é Deus? Deus é uma constante ausência que nos faz e nos traz uma grande confusão. Já não há mestres. Deus está em greve. Cansou-se. Frustrou-se perante a sua incompetente obra: o homem. E eram estes incompetentes como homens e que se diziam mestres que me iriam iniciar no caminho da perfeição. O que eles têm é um grande sentido de humor. E isso eu aplaudo. Gozarem que nem uns perdidos à custa de uns toscos que admitem a hipótese de tocar um dia com a ponta dos dedos na face divina do desconhecido. Toscos.
Tu és um tosco, pensava. Mas pensar assim dava-me armas para me defender. Se não morrer desta, vou até ao fim. Vou ver até onde estes tipos levam a coisa. E fui. E tu sabes que fui. Fui até ao fim da carreira dos Augustinhos, dos palhaços e palhacinhos que povoam a Augusta Ordem. Fui até ao fim e testemunhei um dos mais bem congeminados tratados de humor. E eles gozam que nem umas bestas. O cagaço que metiam a quem se metesse com eles. E comentavam as façanhas com aguda satisfação, como se saboreassem com prazer o sumo do prazer pornográfico que se saliva quando se altera o ritmo emocional de alguém. Eles tinham prazer com o medo dos outros, a quem, mais tarde, tratariam por irmãos e repescariam para as suas hostes de malfeitores encartados. Malfeitores de almas. Falsos profetas, tão falsos e tão profetas como o seu próprio lugar comum"
(...)


Excerto do Livro A vida Social dos Ocultistas de Luís Fillipe Sarmento, Âncora Editora, 1.ª edição, Maio de 2000, fls. 62



Recomendo vivamente a leitura deste pedaço de prosa lúcida, audaz, bem humorada, repleta de sentidos e, de linguagem paradoxalmente únivoca, germinada por uma alma de poeta.

11 comentários:

Anónimo disse...

Quantos comendadores destes, com comenda ou sem ela pululam à nossa volta?
E é vê-los a gozar connosco de tão toscos que nós somos.
E como toscos continuam a ser os que conseguem arrebanhar para a sua "ordem"...
Mas são todos senhores comendadores.
E pronto.

Anónimo disse...

a revolução não existiu, começo a pensar que o Otelo tinha razão com aquela de levar uns quantos para o Campo Pequeno. Mas na época não achei boa ideia. Por outro lado quem era fosse quem fosse para levar quem fosse para onde fosse e fazer-lhe o quê?
Mas que alguns deviam ter sido levados deviam. O problema era saber quais.

Francis disse...

Gostei do texto.
Quanto as essas "Ordens nacionais" perderan todo o valor (se alguma vez o tiveram). São distribuídas na farinha do Amparo a 1 Euro, o pacote!
Um beijo (já me passou a zanga :-)

Anónimo disse...

Deviam instituir mais comendas e honrarias, a malta gosta é disso.

BR disse...

Querida NSQNU, convido-te a passar no meu outro canto:

http://constelacao-das-letras.blogspot.com

Abraço,
BR

Anónimo disse...

Dizia alguém em comentário ao post anterior, que a sexualidade já não é o que era.
Eu digo que a Maçonaria/Opus Dei já não são o que eram :)

Cris disse...

Não se perde nada em ler....


Bjos

Cris

naoseiquenome usar disse...

Obrigada querida BR!
Passarei com toda a certeza!

Teresa Durães disse...

desculpem o meu desacordo mas ainda existem muitas que levam dinheiro ao pessoal bem levado.

de qualquer modo há muita gente que faz o pino por uma medalha. sai mais baratinho que um aumento.

se fosse dona de uma empre grande, arranjava logo uma ordem e punha-os na ordem, ora nem mais!

Anónimo disse...

Acredito que , na sua época,estas ordens tenham sido criadas em nome de causas nobres.

Na actualidade não surgem a cada esquina Ligas ou Associações que lutam tambem por "causas nobres" e cada uma não apresenta um simbolo que coloca á venda em epocas bem determinadas.

Pois é! Sinto-me desenquadrada: perante um condecorado ou homenagiado bato palmas, abro um sorriso e caem-me as lágrimas; recuso-me a doar um centimo que seja ás "causas nobres" de hoje, porque tenho duvidas, muitas duvidas do seu verdadeiro significado. :)

Belzebu disse...

Registei esta excelente sugestão. O texto está brilhante de clarividência e humor!

Saudações infernais!