domingo, janeiro 07, 2007

A minha coerência. A vida não é referendável!

(corrigido na pontuação e em num ou outro lapso de escrita detectado)

O código Deontológico dos médicos, a LEI, a IVG:
- Vamos por partes:
O direito não reflecte apenas a ordem social, ele modifica-a.
Por isso, a discussão que pode existir não é a reflectida no post, mas em relação aqueles médicos que, sabendo que o direito deixou de considerar o aborto um acto ilícito (agora até às 10 semanas, livremente e por exclusiva opção da mulher...), em consciência, decidem não o praticar.
Porque, quem o praticar, estará a coberto da lei e nenhum Tribunal os poderá condenar.
E estas condenações públicas, não passam de ridicularias de quem não tem mais nada de útil para oferecer à sociedade, o que parece ser o caso dos Srs. Drs. Miguel Leão e Pedro Nunes, nesta e noutras, demasiadas, discussões.

Questão mais delicada é a que assenta no facto de o aborto em si, agora a partir das 10 semanas, continuar a ser considerado um acto ilícito e portanto desconforme ao direito. Pelo que, insisto, esta despenalização até às 10 semanas, assente em critérios mais que duvidosos, é uma liberalização, pressupondo o desvalor da vida até esta altura (paradoxalmente continuando a atribuir-lho a partir daí).
Ou seja: até às 10 semanas, um comportamento que era contrário à ordem jurídica, passará a ser conforme com a ordem jurídica.
E hoje são as 10 semanas, amanhã serão 16 ou 20, tudo dependente de critérios mais ou menos artificiais e de conveniência e não em aspectos profundos da natureza da vida do embrião.

Quanto à sua realização em estabelecimentos legalmente autorizados... bem... mais uma falsa questão. Imagine-se uma adolescente a dirigir-se a um desses estabelecimentos... precisará de autorização dos pais... pois. É isso mesmo. O aborto clandestino não diminuirá.
De resto, pela urgência da intervenção, o SNS não poderá garantir resposta e quem ganhará e muito serão as clínicas privadas para o efeito concessionadas.
Quanto ao direito de opção da mulher: ... e o pai? e... o embrião?... E, quem terá o direito de falar na infelicidade de uma criança que nasce "sem condições" se nem sequer lhe é dado o direito de nascer?


... Futurismo conveniente, aceite socialmente, ou "legislação no seu tempo".

E/ou:

porque tudo isto, é artificial e socialmente conveniente,
este referendo é uma FARSA!
Que fará com que o erário público gaste mais uns milhares de euros, até que seja aprovado. Agora, ou noutro, caso o não vença ainda desta vez.
Isto é uma questão legislativa. Não de mobilização de consciências, porque não se mobilizam legislativamente consciências.
Bastaria ao parlamento, 2 ou 3 sessões com honestidade, poupando-nos a estes gastos todos e a discussões estéreis.
Em suma: DESRESPONSABILIZAÇÃO.


Bem...
o meu discurso vai longo, provavelmente pouco apelativo à leitura.
Em relação ao Código Deontológico dos Médicos, há que dizer, que este não é fonte de direito e portanto, a actuação dos profissionais em "desconformidade" não levará nunca a sanções. Pelo que, é ridículo, no mínimo, falar em condenações públicas.
E isto, em nada contraria o que disse antes,
Até porque, e de acordo com o que já antes escrevi num post dedicado ao assunto, lá no meu sítio, esta será sempre a minha posição:
" Chegados a este ponto, há que tomar em linha de conta a liberdade. No caso, a liberdade individual para determinar a moral da conduta, para afirmar os próprios princípios, ou seja, reconduzindo-nos à consciência, para a protecção da sua própria consciência e da sua responsabilidade, por decisão própria.
Ora,
mas esta visão não colidirá com a protecção e a salvaguarda da comunidade?
Teríamos de ir fundo, muito fundo na discussão.
Em minha opinião a ética individual em casos de condutas morais tem de prevalecer sobre uma hipotética e alegada ética comunitária que me esmague a vontade e me trate como coisa!"

Não nos inflamemos com provocações, que pretendem ser crítica, mas... não, não passam de provocações!

PORQUE EU SOU PELO NÃO,
MAS NÃO VOU VOTAR!

PORQUE POR MAIS PARADOXAL QUE PAREÇA, DEFENDEREI A CONFORMIDADE AO DIREITO, MAS JAMAIS ABDICAREI DA MINHA CONSCIÊNCIA!

PORQUE ESTE REFERENDO É UMA FARSA E UM DESPERDÍCIO DE DINHEIROS PÚBLICOS!

PORQUE NENHUM DEFENSOR DO SIM AINDA FOI CAPAZ DE DIZER QUE NÃO DEFENDE O DIREITO À VIDA!

PORQUE ESTA DEVE SER A POSIÇÃO DE UM "JULGADOR".

14 comentários:

Anónimo disse...

Touché!
Parabéns!

Anónimo disse...

Para ser coerente só me resta dizer:
Uma lei injusta ou a ausência dela são limitativas da liberdade individual e colectiva.

naoseiquenome usar disse...

J.F.
com todo o prazer, gostaria que clarificasse o sentido da sua afirmação. O que entende por lei injusta e a qual se refere.
Ou a que ausência (de lei) se reporta.
Obrigada.

Anónimo disse...

nãoseiquenome usar:
Encamino-a para o comentário que fiz ao seu, no Post a que se referiu.
Obrigado e...
As minhas desculpas

Anónimo disse...

o aborto faz-se. ilegalmente ou não. a questão é saber se uma mulher vai presa por o fazer ou não. Actualmente muita gente morre por fazer aborto ilegal. Concordo consigo que não é referenciavel e que devia ser feita a lei e ponto final. Mas existe um problema. Grande. Os que morrem. O facto de ser contra o aborto não implica que outros não o façam. se eu for contra o preservativo? Dizendo que a minha moral diz que está a tirar a vida a um possivel embrião? as questões morais não são, realmente referenciáveis.

mas há mais problemas do que os visíveis

boa noite

naoseiquenome usar disse...

Teresa:
(já disse isto antes, peço desculpa a quem ouviu primeiro este "discurso"):
Faz-se.
E sempre se fará.
A CULPA, sempre foi e será o único determinante na apreciação dos crimes.
Nada muda se ganhar o sim, a não ser que se cria uma aberração jurídica. Lícito, mas criminalizador até às 10 semanas. Ilícito e criminalizador após as 10 semanas.
E porquê as 10 semanas, pergunto? O que muda ás 10 semanas e um dia?
...
A evolução, será no caminho de aceitar o aborto como mal menor, como último recurso (e às vezes o primeiro) em vez de uma cada vez maior e ,melhor educação sexual, que, assim, apenas se fará para cumprir calendário, pois haverá sempre este recurso.
Isto, eu não posso aceitar.
Não sou bruxa, mas conheço a evolução dos sistemas.

E depois a palavra Opção/escolha.
Escolha entre quê?
Fazer e não fazer?
É preciso lei, ou, outra para isso?

Não.
A escolha, e a pergunta deveria contemplar tal, deveria ser entre não ter e ter com apoios.

Nunca tive nenhum apoio. Tenho uma filha por "acidente", que passou a ser o centro da minha vida e, sei que só por não termos ambas sido abortadas, estamos aqui, a falar, uma com a outra!

segurademim disse...

... mais um circo mediático para dar a ganhar dinheiro a alguns

sem dúvida que o Parlamento deveria assumir as suas responsabilidades e legislar

O referendo só serve para indispôr as pessoas umas contra as outras e gastar um dinheirão ao país

quanto ao aborto, vejo-o como um assunto privado e da consciência de quem o pratica

mixtu disse...

que dizer... palavras coerentes...

sou a favor do SIM... mas também não vou votar... razão: a AR devia assumir as suas responsabilidades...

beijinho...

muito corente e assim é meio caminho para saberes o nome que usar... :)

Anónimo disse...

também tenho uma filha por "acidente". Mas há, por exemplo, casos em que as mulheres engravidam e é impossível emocionalmente e financeiramente terem o filho. Abortar não é fácil. Não se vai prender/ condenar uma mulher por isso ainda por cima quando na maioria dos casos os pais são irresponsáveis e simplesmente desaparecem. Que raio de lei diz que o pai dá 10% do ordenado para sustentar o filho? Do meu devo ter 10% para mim. O resto é para eles. O meu tempo se for 10% para mim é muito. E deste nem me queixo. Adoro-os.

Mas condenar uma mulher porque não tem hipótese, não. Por isso o meu é sim. As 10 semanas tem justificação médica (risco para a mãe, ainda é um embrião e não um feto por isso não se chama aborto).

Mas por esse raciocínio tem de seguir a lógica do da igreja e não usar contraceptivo porque toda a ligação é um possível ser humano.

Parece-lhe absurdo mas a mim o seu também me pode parecer.

É tudo uma questão de plano.

Não gosto de entrar em contendas deste género. Aprovar a lei não é criar a IVG mas tentar salvar as vidas das que são realizadas em actos bárbaros feitos por gente oportunista chamados médicos(as), enfermeiros(as), parteiros(as).

Penso que cada um tem liberdade de opção e não existe qualquer tipo de assassinato porque ainda não é vida, é embrião ou semente.

boa tarde para si, sem contendas, está bem? :)

Anónimo disse...

Está escrito, ou pressuposto, em mais que um postal deste blogue - "sinistralidade","controvérsia" - que, a vida começa com a fecundação. Vida animal ou vegetal, assim também a a animal humana. Todos os coarações batem.
Este é também o momento do início da vida humana, porque, depois disso mais nada se lhe acrescenta.

(um médico)

Anónimo disse...

Dez milhões de euros, penso.
Para fazer, o que como diz e bem, se podia fazer em 2 sessões. E vai acabar por ser feito à custa de tantos outros milhões, daqui a não sei quantos anos, porque a mobilização é nenhuma e bem se compreende que não seja.
Absoluta coerência a sua, que adopto.

Anónimo disse...

O pior são aquelas mulheres que podem e muito bem ter os filhos, mas fazem do aborto um método contraceptivo, tantas vezes repetido, simplesmente porque é "indesejável".

A coerência é notável.
Mas eu vou votar NÃO.

Arrebenta disse...

Este referendo é uma farsa e mais um capricho político da "Mulher" mal assumida que governa Portugal.

Anónimo disse...

Há razões (sérias) para votar SIM, para votar NÃO e para NÃO VOTAR.

Para lá do facto de que isto não passa de uma gigantesca manobra de diversão...